Palestra do Pe. Guido – Exorcismo, possessão e Libertação

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EXORCISMO: POSSESSÃO E LIBERTAÇÃO

Trata-se de um tema complexo, e que sem dúvida gera nas pessoas muito medo, especialmente quando a falta de conhecimento da doutrina da Igreja oferece espaço e credibilidade às forças do mal, criando na pessoa humana uma impotência e fraqueza aparentemente sem solução de melhora. É exatamente neste momento que ressoa a voz de Jesus, quando, falando da Igreja, disse que “AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA”.

Apresento a seguinte reflexão em três partes:

  1. Quem é o demônio e até onde vai seu poder
  2. Os vários aspectos da possessão demoníaca: tentação, infestação, possessão e obsessão
  3. Como é feito o exorcismo e quais são os frutos da libertação

No final, apresento o texto oficial, em língua latina, do rito do exorcismo. Para uma melhor compreensão do texto, escolhi a forma redacional dialogada, com perguntas e respostas.

QUEM É O DEMÕNIO E  ATÉ ONDE  VAI    SEU PODER

.Os demônios existem?

Sim, existem. «A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé». Alguns desses anjos, criados bons por Deus, liderados por Satanás, também chamado Diabo, «radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino», e portanto deve-se afirmar que «de fato, o Diabo e os outros demônios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si próprios, é que se fizeram maus»

É verdade que há alguns cristãos que negam a existência do demônio?

Alguns cristãos, entusiasmados com as grandes descobertas científicas dos últimos séculos, colocaram, erroneamente, uma confiança excessiva no método próprio das ciências experimentais e acabaram por negar a existência de realidades que, pela sua natureza, não são passíveis de estudo empírico, tais como, por exemplo, os seres puramente espirituais a que chamamos ”anjos”

Satanás pode causar todos os males que quer?

Não. «O poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo fato de ser um puro espírito», isto é, um anjo que tal como todos os anjos «excedem em perfeição todas as criaturas visíveis».

Qual é o maior mal que podem causar os demônios?

Os demônios «esforçam-se por associar o homem à sua rebelião contra Deus» por induzir o homem ao pecado mortal o qual «tem como conseqüência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no Inferno»

Quais são os pecados com os quais o demônio leva mais pessoas para o inferno?

Só Deus o sabe. Na nossa cultura, porém, sobressaem pela sua difusão, dois vícios especialmente graves: 1) A luxúria, idolatria do prazer sexual, em todas as suas formas (contracepção, masturbação, adultério, relações pré-matrimoniais, aberrações sexuais, etc.), que destrói a capacidade humana de amar, ou seja de a pessoa se dar a Deus e aos outros; 2) A superstição pela qual divinizamos alguma criatura ou força criada, caindo assim na idolatria, na adivinhação ou na magia. Através destes pecados o demônio corrompe a nossa relação com Deus.

O demônio é o instigador de todos os nossos pecados e a causa de todos os males?

Não. Como ensina Jesus na parábola do semeador, às vezes somos levados a pecar movidos pelas seduções do mundo ou pelas nossas próprias más inclinações. «Não se deve acusar o Diabo em todas as coisas que acontecem, de fato, às vezes, o próprio homem faz de Diabo para si mesmo»

Jesus Cristo já venceu o Diabo e os seus anjos?

Sim, «foi para destruir as obras do Diabo que apareceu o Filho de Deus» (1Jo 3,8). «Cristo, pelo mistério pascal da sua morte e ressurreição, livrou-nos da escravidão do Diabo e do pecado, derrubando o seu domínio e livrando todas as coisas dos contágios malignos». Porém, o Diabo embora já definitivamente vencido por Cristo na cruz ainda continua a exercer a sua ação maléfica no mundo e «essa ação é permitida pela divina Providência», que do mal sabe tirar bens maiores. «Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa, com efeito, toda a história humana; começou no princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor, durará até ao último dia».

Que tipos de ação exercem os demônios sobre este mundo?

«A maléfica e adversa ação do Diabo e dos demônios afeta pessoas, coisas e lugares, manifestando-se de diversos modos»

Que tipo de capacidades naturais têm os anjos e os demônios?

Têm um certo domínio sobre as realidades materiais, por exemplo, podem mover objetos e têm a capacidade de atuar sobre os nossos sentidos externos ou internos.

Os demônios podem fazer verdadeiros milagres?

Não, só Deus pode fazer milagres propriamente ditos, mas os demônios pelas suas capacidades naturais podem fazer coisas prodigiosas e extraordinárias que parecem aos homens milagres. De fato, por vezes, «quando os demônios realizam algo pelo seu poder natural, nós o chamamos de milagre, não de modo absoluto mas em relação à nossa capacidade [humana], e é assim que os bruxos realizam milagres graças aos demônios»

O que é a parapsicologia?

É uma falsa ciência que se propõe de estudar os fenômenos ditos “para-normais”, como, por exemplo, a telepatia, a clarividência, a mediunidade, as experiências extra-corpóreas, os espíritos, com o método científico das ciências experimentais. A comunidade cientifica mundial é unânime na crítica negativa que faz do valor científico dos métodos e dos resultados obtidos pela parapsicologia. Contrariamente, a teologia sempre soube explicar, partindo da Palavra de Deus, as verdadeiras causas dos fenômenos hoje chamados “para-normais”, denominados tradicionalmente por “praeternaturais”, apoiando-se sobretudo na angiologia.

Os demônios podem possuir as pessoas?

Normalmente aos demônios é apenas permitido pela Providência divina tentar os homens ao pecado, mas por vezes encontram-se casos de ataques diabólicos que vão muito para além das simples tentações. A maior parte destes distúrbios menos comuns estão diretamente relacionados com formas de adivinhação ou magia em que explícita ou implicitamente os homens pedem à ajuda dos demônios. Tais pactos, muitas vezes, conferem aos demônios a possibilidade de causar distúrbios que vão para além das simples tentações.

Que sinais podem indiciar a presença de distúrbios de origem diabólica?

Conhecer línguas desconhecidas à pessoa, bem como fatos ocultos, manifestar uma força acima do normal e ter aversão às coisas sagradas. Ver, ouvir, sentir, cheirar e imaginar coisas inexplicáveis à luz das ciências psicológicas. Ter doenças ou distúrbios somáticos inexplicáveis à luz das ciências médicas. Acontecimentos estranhos com objetos e animais inexplicáveis à luz da ciência, como por exemplo, coisas que se movem do lugar sozinhas, eletrodomésticos que se acendem e desligam sozinhos, etc.

OS VÁRIOS ASPECTOS DA POSSESSÃO DEMONIACA: tentação, infestação, possessão e obsessão

A tentação

“Bem-aventurado o homem que sofre (com paciência) a tentação. Porque depois que tiver sido provado, receberá a coroa da vida, que Deus promete aos que o amam”.

A AÇÃO MAIS COMUM e constante do demônio, em relação ao homem, é a tentação. Por esse seu aspecto comum e também por ser a mais freqüente, pode-se chamá-la de ação ordinária do demônio.

Natureza da tentação

Em seu sentido etimológico, tentar alguém significa pô-lo à prova para que se conheçam suas disposições ou qualidades.

Causas naturais da tentação: o mundo e a carne

Nem todas as tentações que o homem padece provém do demônio; também o mundo e a carne têm nelas uma grande parte: “Nem todos os pecados são cometidos por instigação do demônio, mas alguns são cometidos pela livre vontade e corrupção da carne” – ensina São Tomás. (Suma Teológica, 1,a.3.)

A raiz mesma da tentação está na própria natureza humana, livre porém demasiado frágil, sobretudo depois que decaiu de sua integridade, em conseqüência do pecado original. “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e o alicia” – escreve o Apóstolo São Tiago (Tiago 1, 14), que repete a mesma ideia pouco à frente: “De onde vêm as guerras e as contendas entre vós? Não vêm elas das vossas concupiscências que combatem em vossos membros?” (Tiago 4, 1).

São Paulo descreve em termos dramáticos essa terrível realidade: “Sinto imperar em mim uma lei: querendo fazer o bem, eis que o mal se apresenta a mim. Segundo o homem interior, acho satisfação na lei de Deus; mas em meus membros experimento outra lei que se opõe à lei do meu espírito e me encadeia à lei do pecado que reina em meus membros” (Rm 7, 21-24)

São Paulo descreve a luta que se trava no interior do homem entre a carne e o e espírito. O homem reconhece a justiça e a bondade da lei, mas a concupiscência excita-o fortemente a desobedecer-lhe. A carne, aqui, significa a natureza humana decaída em consequência do pecado original, que a tornou desregrada. Avaliada em si  mesma, a carne ou seja, a natureza humana é boa, pois criada por Deus.

A tentação demoníaca

Porém, conforme ensina o Apóstolo, “não temos que lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares… “(Ef 6, 10-11).

É fora de dúvida que muitíssimas tentações são obra direta do demônio, cujo oficio próprio — diz São Tomás — é tentar. ( Suma Teológica, 1,q. 114,a .2. )

A maior parte da atividade demoníaca se concretiza na tentação. Por isso o demônio, no Evangelho, é chamado tentador (cf. Mt 4, 3).

As demais causas da tentação — o mundo e a carne — podem atuar dependentemente umas das outras; entretanto, é comum que, nas tentações, a atração do mundo da sensualidade incrementa a ação aliciante do demônio.

De tal modo que, embora os teólogos aceitem no plano teórico a possibilidade de a tentação poder ter uma causa apenas natural o mundo ou a carne sem entrar necessariamente a ação do demônio, no plano prático, em geral, admitem que o Maligno, sempre à espreita, se aproveita de todas as circunstâncias para cavalgar a tentação e aumentar a sua intensidade ou malícia.

De onde a advertência de São Paulo: “Se sentirdes raiva, seja sem pecar: não se ponha o sol sobre vossa ira, para não dardes oportunidade ao demônio” (Ef 4, 26-27).

O homem diante da tentação

A tentação não é pecado

A tentação, de si mesma, obviamente não é pecado. Pois o próprio salvador permitiu ser tentado pelo demônio (Mt 4, 1-11; Mc 1, 12-13; Lc 4, 1-13).

Como dissemos, o demônio não pode agir diretamente sobre a inteligência ou a vontade humanas e por isso procura influenciá-las por meios indiretos, em seu escopo de fazer-nos pecar. Mesmo podendo resistir ao tentador, o homem freqüentemente se deixa seduzir.

Para nos tentar, o demônio pode excitar a imaginação de modo a formar nela imagens e representações lúbricas ou perturbadoras; interferir em movimentos corporais que favoreçam os maus atos ou maus pensamentos, intensificar as paixões, procurar enredar-nos em sofismas, em erros, etc.

Entretanto, o homem não é culpado das tentações que sofre, a não ser quando elas são conseqüência de imprudências, permitidas ou procuradas voluntariamente, por exemplo, com olhares indevidos, frequência a lugares perigosos, más companhias, etc. Do contrário, ele só será culpado nos casos em que der um consentimento pleno e deliberado ás solicitações das tentações.

Três coisas devemos distinguir na tentação: a sugestão, a deleitação e o consentimento. A sugestão não é um pecado, porque não depende da nossa vontade, A simples deleitação, quando involuntária, também não é pecado. Só o consentimento é sempre criminoso, porque depende exclusivamente de nós o aceitar ou não a sugestão do pecado” Por mais intensa que seja uma tentação, se o homem lutou contra ela o tempo todo, não cometeu a menor falta; pelo contrário adquiriu méritos para sua santificação, segundo escreve São Tiago Apóstolo: “Bem-aventurado o homem que sofre (com paciência) a tentação, porque, depois que tiver sido provado, receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam” (Tg 1, 12).

Necessidade da vigilância e da oração

Devemos estar sempre alertas para enfrentar as provocações, como nos recomendou Nosso Senhor na hora de sua Paixão: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). O mesmo aconselha São Pedro: “Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pedro 5,8).

Vigiar, porém, não basta. É preciso resistir ao demônio: “Resisti ao demônio, e ele fugirá de vós” (Tiago 4, 7) — nos assegura São Tiago. “Resisti-lhe [ao demônio] fortes na fé” — manda São Pedro (1 Pedro 5,9).

E São Paulo exorta: “Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às ciladas do demônio… tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé depois de ter vencido tudo. Estai, pois, firmes tendo cingido os vossos rins com a verdade, e vestindo a couraça da justiça … tomai o escudo da fé com que possais apagar todos os dardos inflamados do maligno, tomai também o elmo da salvação e a espada do espírito ( que é a palavra de Deus)” (Ef 6, 11-17).

Deus não permite que sejamos tentados além de nossas forças

Devemos, entretanto, ter sempre presente esta consoladora verdade: é certo que Deus não permite sejamos tentados além de nossas forças. Este é o ensinamento de São Paulo: “Nenhuma tentação vos sobreveio que superasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças: mas, com a tentação, vos dará também o meio de sair dela e a força para que suportá-la” (1 Cor 10,13).

A infestação

A terminologia a respeito da ação extraordinária do demônio sobre os homens, as coisas e os locais, não é uniforme: alguns autores falam em obsessão, para designar essa atuação demônio, quer se trate de sua simples presença local, quer de atuação sobre o homem, mas sem possuí-lo, quer da possessão. Outros criam termos especiais como circumissessão, para designar a ação demoníaca externa ao homem.

Adotamos aqui a terminologia utilizada por Mons. Corrado Balducci, por parecer-nos mais simples e direta: infestação local, infestação pessoal e possessão diabólica. Trataremos em primeiro lugar das duas formas de infestação — a local e a pessoal; em seguida, falaremos da possessão.

Infestação local

A infestação local consiste em uma atividade perturbara que o demônio exerce diretamente sobre a natureza inanimada (reino mineral, elementos atmosféricos, etc.) e animada inferior (reino vegetal e reino animal), e também sobre lugares, procurando desse modo atingir indiretamente o homem, sempre em modo maléfico.

Com efeito, todas as criaturas, mesmo as irracionais, por maldição do pecado, ficaram sob o poder do demônio (cf. Rom 8, 21ss). Assim, os lugares e as coisas, do mesmo modo que as pessoas, estão sujeitas à infestação demoníaca. E preciso não esquecer a atuação dos demônios dos ares, a respeito das quais nos adverte o Apóstolo: “Não temos que lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares…” (Ef 6, 10-11). Entram nessa categoria as casas e lugares infestados: objetos que voam ou se deslocam de lugar, sons estranhos ou perturbadores (passos, pedradas nas vidraças ou no telhado, uivos, gritos, gargalhadas); impressão de presenças invisíveis, sensação de perigos inexistentes, etc.; distúrbios visíveis, estranhos e repentinos que se verificam no mundo vegetal e no mundo animal (árvores ou plantações que secam repentinamente, doenças desconhecidas nos animais, pragas etc).

Certos fenômenos ou calamidades de aparência e estruturas naturais (tempestades, terremotos e outros cataclismos, incêndios, desastres, etc.) podem ter igual- mente o demônio como autor, senão único direto (como na possessão), ao menos parcial e dirigente. Por exemplo, o raio que caiu do céu e consumiu os pastores e as ovelhas de Jó, do mesmo modo que o vento do deserto que fez cair a casa dos filhos do Patriarca, esmagando-os sob as ruínas, foram suscitados por Satanás (Jó 2, 16-19). Nesse caso, podem ser incluídos essas manifestações demoníacas extraordinárias.

Muitas vezes, tais manifestações ocorrem em concomitância com casos de infestação pessoal ou de possessão diabólica.

Infestação pessoal

A infestação pessoal é uma perturbação que o demônio exerce, já não mais sobre o mundo material e as criaturas irracionais, mas sobre uma pessoa, diretamente, sem contudo impedir-lhe o uso da inteligência e da livre vontade. Apesar de ser excepcional, é talvez o mais frequente dos três tipos de atividade maléfica extraordinária – isto é, infestação local, infestação pessoal, possessão.

Como a infestação local, a pessoal também comporta graus de intensidade, e diversa modalidade.

A infestação pessoal pode ser externa ou física e interna ou psicológica, conforme se exerça sobre os sentidos externos ou internos e sobre as paixões do homem. Com frequência, a infestação é simultaneamente externa e interna.

Na infestação externa ou física, demônio age sobre nossos sentidos externos: a vista, provocando aparições sedutoras ou, contrário, apavorantes; a audição, fazendo ouvir rumores, palavras ou canções obscenas, blasfêmias, convites, agrados ou ameaças; o tacto, com sensações provocantes, abraços, movimentos carnais; então dores, doenças, etc.

Mas o demônio pode atuar também sobre os sentidos internos (fantasia e memória) e sobre as paixões.

A infestação interna ou psicológica consiste em sugestões violentas e tenazes: ideias fixas, imagens ex-pressivas e absorventes, movimentos profundos de emotividade e de paixão – por exemplo, desgostos, amargura, ressentimentos, ódio, angústias, desespero; ou, ao contrário, inclinação para algum objeto ilícito, ou inclinação, de si lícita, mas desregrada quanto ao modo e à intensidade.

Os acessos de melancolia e os transportes de furor que afligiam Saúl, por obra de um demônio e por permissão divina ( cf. 1 Reis 16, 14-23), são característicos da infestação pessoal interna, infestação psicológica. Diferentemente do possesso, o infestado guarda a disposição de seus atos exteriores, embora em muitos casos tenha sua liberdade diminuída. Ele conserva o poder de reagir contra as sugestões do interior ( por exemplo, sugestões de blasfêmias), de julgar sobre o valor moral destas sugestões, achando-as abomináveis. Uma das modalidades de infestação pessoal, talvez das mais freqüentes são as doenças, muitas vezes desconhecidas e incuráveis, que chegam a levar à morte, se Deus o permitir. É o que, aliás, lemos no livro de Jó: “Disse, pois, o Senhor a Satanás: Eis que ele (Jó) está na tua mão; conserva, porém, a sua vida” (Jó 2, 6).

As escrituras apresentam vários casos de tais enfermidades de origem de diabólica. Exemplo clássico, é a lepra que cobre de chagas o justo Jó, da planta dos pés até o alto da cabeça (Jó 2, 7-8).

Seriam igualmente vítimas de infestação diabólica a mulher encurvada, atormentada pelo demônio havia dezoito anos, de tal sorte que não se podia endireitar, e que foi curada por Nosso Senhor (Luc 13, 11); o menino epilético (Mt 17, 14; Mc 9, 17; Luc 9, 38); o mudo (Mt 9,32); e o cego mudo (Mt 12, 22).

Vítimas prediletas da infestação

Se bem que qualquer pessoa possa ser vítima desse tipo de tormento diabólico, indico três categorias de pessoas que estariam mais sujeitas a ele: os santos, os exorcistas e demonólogos, e os maleficiados (vítimas de malefício).

Os santos, por causa do ódio que o demônio tem daqueles que de modo especial amam a Deus e procuram a perfeição; isto, do lado da intenção do demônio; do lado da permissão divina, esta é dada como provação especial a almas muito eleitas. Vários santos a experimentaram. Entre os antigos, basta lembrar Santo Antão; do mesmo modo Santa Catarina de Siena (1347-1380); São Francisco Xavier (1506-1552); Santa Teresa de Jesus (1515-1582); Santa Maria Madalena de Pazzi (1566-1607); São João Batista Vianney, o Cura d’Ars (1786-1859) São João Bosco (1815-1888); Santa Gemma Galgani (1878-1903).

Os exorcistas e demonólogos: a razão é tão óbvia que quase não é preciso dá-la; os primeiros, com seu ministério, fazem diminuir a presença do demônio no mundo e libertam suas vítimas; os segundos, com seus estudos, esclarecem os fiéis com relação à existência e atividade demoníacas.

Os maleficiados (vítimas de malefício), por permissão de Deus, para seu castigo, ou provação, ou para manifestar o poder divino.

Um caso  prático, acontecido á Santa Gema Galgani: era uma santa leiga, grande mística, recebeu os estigmas da Paixão, tinha frequentes visões de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, e dialogava frequentemente com seu Anjo da Guarda. Foi muito atormentada pelo demônio que a espancava com uma vara durante horas e horas, às vezes a noite inteira, causando-lhe profundas esquimoses no corpo, que duravam vários dias, até que Nosso Senhor as curasse. Perseguia-a por toda a parte, em casa, na rua, na igreja, com aparições, assumindo o aspecto de um cachorro, de um gato, de um macaco, de pessoas conhecidas, ou de homens ferozes e espantosos. Várias vezes um desses homens horríveis a jogou na lama quando saia de casa para ir comungar. O demônio lhe aparecia também sob a figura de seu confessor, Mons. Volpi e outras debaixo da aparência do Anjo da Guarda, chegando a confundi-la; de certa feita o Maligno assumiu a figura de Jesus flagelado, com o coração aberto e todo ensanguentado, para pedir-lhe maiores penitências, com a dupla finalidade de fazer deteriorar sua já delicada saúde e incitá-la a desobedecer o confessor que as havia proibido

A possessão

E pela tarde apresentaram-Lhe muitos possessos do demônio”. (Mt 8, 16)

A POSSESSÃO é a mais espetacular das manifestações diabólicas e a que mais impressiona as imaginações; a tal ponto, que deixa na penumbra o trabalho constante do demônio que, por meio da tentação, procura seduzir os homens ao pecado.

Realidade da possessão diabólica

No que se refere à possessão diabólica, há duas posições erradas que é preciso evitar: a primeira, consiste em acreditar com facilidade que uma pessoa está possessa, sem maior exame, pela impressão causada por sintomas que podem bem corresponder a outros estados, não sendo de si suficientes para caracterizar a possessão; a segunda posição está em negar que hoje ocorram casos de possessão; chega mesmo a negar que alguma vez se tenham dado. Esta posição extremada se choca com uma verdade claramente ensinada pela Sagrada Escritura, pela Tradição e pela prática da Igreja.

Os racionalistas pretendem que os casos de possessão diabólica relatados na Escritura não passam de casos patológicos — mania, loucura, histeria e epilepsia. Dizem que Jesus não pretendia que esses infelizes enfermos, chamados endemoniados, estivessem realmente possessos, mas tratava-os de acordo com as convicções dos seus contemporâneos, os quais acreditavam na ação demoníaca.

Nada mais falso, e os Evangelistas distinguem bem entre a doença e a possessão. Assim, São Marcos escreve: “E de tarde, sendo já posto o sol, traziam-lhe (a Jesus) todos os que estavam doentes e os possessos do demônio E curou muitos que se achavam oprimidos com varias doenças. e expeliu muitos demônios” (Mc 1, 32-34).

E em São Mateus está escrito: “E pela tarde apresentaram-lhe muitos possessos do demônio, e ele com a (sua) palavra expelia os espíritos maus, e curou todos os enfermos” (Mt 8, 16).

Do mesmo modo São Lucas: “E quando foi sol posto, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias, traziam-lhos. E ele impondo as mãos sobre cada um, sarava-os. E de muitos saíam demônios gritando” (Lc 4,40-41).

É evidente nestas passagens que os Evangelistas se referem à cura de doentes e à expulsão de demônios como dois casos diferentes.

De resto, o próprio Salvador afirma que expulsava os demônios dos possessos. Por exemplo, aos judeus incrédulos disse Jesus: “Se eu, porém lanço fora os demônios pela virtude do Espírito de Deus, é chegado a vós o reino de Deus” (Mt 12, 28). “Se eu, pelo dedo de Deus lanço fora os demônios, certamente chegou a vós reino de Deus”(Lc 11,20).

E Ele mesmo distingue bem os casos de doença dos de possessão, ao dizer: “Eis que eu expulso os demônios e opero curas” (Lc 13, 32).

A Liturgia e a prática da Igreja, com a instituição dos exorcismos, bem como o ensinamento dos teólogos, indicam que Ela crê na possessão diabólica. Ao mesmo tempo, estabelecendo que os exorcismos sobre possessos não sejam feitos senão depois de maduro exame e mediante especial autorização, a Igreja indica que não se deve crer levianamente nos casos de possessão.

Em resumo, que se tenham dado alguns casos, pelo menos de verdadeira possessão diabólica, como os relatados nos Evangelhos, é verdade de fé; que depois se tenham dado outros, é doutrina comum dos teólogos, que não pode ser negada sem temeridade.

Natureza da possessão

A possessão consiste em um domínio que o demônio exerce diretamente sobre o corpo e indiretamente sobre a alma de uma pessoa. Esta se converte em um instrumento cego, dócil, fatalmente obediente ao poder perverso e despótico do demônio.

O indivíduo em tal estado é chamado justamente possesso, endemoniado, enquanto instrumento, vitima do poder demoníaco, ou energúmeno, porque mostra uma agitação insólita.

Características

A possessão se caracteriza por dois elementos: a) presença do demônio no corpo do homem; b) exercício de um poder por parte demônio sobre o mesmo.

Quanto a presença demoníaca, ela não significa uma presença física, como anjo (decaído), o demônio é puro espírito; sua presença se dá pelo contato operativo, isto é, o demônio está onde atua desse modo, o demônio pode desenvolver sua atividade por toda a parte, tanto fora como dentro dos corpos humanos. Sendo assim, um indivíduo pode estar possuído por vários demônios (os quais operam simultaneamente sobre ele, embora sob aspectos diversos), como um só demônio pode possuir várias pessoas (atuando sucessivamente sobre cada uma delas).

O modo como se opera a possessão é explicado por São Tomás de Aquino:

Santo Tomás, doutor da Igreja, explica que o diabo não pode penetrar diretamente na alma do homem, pois isto somente a Santíssima Trindade pode fazer. (Suma Teológica, 3,q. 8,a.8) Isto quer dizer que, na possessão, embora o demônio domine o corpo, sobretudo o sistema nervoso, e possa impedir o uso das potências da alma, ele não pode penetrar nela e obrigar sua vítima a cometer um pecado, ou aceitar as doutrinas diabólicas.

O possesso não é moralmente responsável por seus atos, por piores que sejam, uma vez que não tem plena consciência deles, nem existe colaboração da vontade.

Efeitos da ação do demônio sobre o possesso

A presença operante do demônio no endemoniado não é contínua, mas se manifesta por períodos de crise. Não falta ao demônio poder nem vontade de atormentar ininterruptamente sua vítima, tal o ódio ao homem; Deus é que não o permite, pois a pessoa não resistiria.

A influência do demônio sobre os possessos não é simplesmente indireta ou moral, como, por exemplo, nas tentações, mesmo as mais fortes; ela é uma ação direta e física, exercida pelos espírito das trevas sobre os órgãos corporais do infeliz submetido ao seu império. De onde resulta para este último um estado doentio, estranho, que sai das leis ordinárias das afecções mórbidas, embora frequentemente acompanhado de fenômenos de ordem puramente natural, que o demônio determina nele, simultaneamente com aqueles que ultrapassam a esfera própria aos agentes físicos. Esses fenômenos são habitualmente uma superexcitação geral e profunda de todo o sistema nervoso.

Outras vezes, ao contrário, o demônio comunica à sua vítima um crescimento extraordinário da força muscular. O infeliz entra em fúria a ponto de espumar de raiva, ranger os dentes, soltar gritos espantosos, precipitar-se na água ou no fogo. Ele se torna então perigoso para aqueles que se aproximam dele; destrói, como simples pedaço de palha, as cadeias de feno com as quais o querem prender; e, se ele não puder atingir os outros, volta conta si mesmo o seu furor, arranhando-se com as unhas, machucando-se com as pedras do caminho.

Essa ação perturbadora e nociva do demônio sobre os órgãos corporais expande-se sobre as faculdades mistas, como a imaginação, a memória, a sensibilidade. Estende-se mesmo mais longe e mais alto no ser humano, porque ela tem sua repercussão até na inteligência. As operações intelectuais apresentam, às vezes, um tal caráter de incoerência, que os demoníacos parecem atingidos de alienação mental. Não é raro também ver-se produzir, no domínio do espírito, um fenômeno análogo àquele que se passa no seus órgãos. Assim como o demônio, em lugar de paralisar as energias corporais do demoníaco, aumenta seu poder, do mesmo modo, em vez de diminuir suas luzes naturais, ele comunica à sua inteligência conhecimentos que ultrapassam de muito seu poder.

Possessão e infestação: fenômenos da mesma espécie

A infestação pessoal (ou obsessão) e a possessão constituem fenômenos da mesma espécie, variando apenas em grau, e são classificadas pelos teólogos como ações extraordinárias e diretas do demônio, enquanto a tentação é indicada como ordinária e indireta.

Observa o Cardeal Lepicier que a diferença entre a infestação pessoal e a possessão não é um diferença de espécie, mas somente de grau, visto que estas formas diferem mais ou menos, conforme for maior ou menor o grau do poder exercido pelo demônio sobre o corpo do indivíduo a quem ele resolveu atormentar. Os fenômenos de infestação pessoal não são, por vezes, menos graves do que os de possessão. De fato, o Ritual Romano não estabelece diferença alguma entre eles, e as línguas latina e italiana têm apenas uma palavra clássica para designar ambas as formas, isto é, obsessão diabólica.(Cf. Card. A. LEPICIER, O Mundo Invisível, p. 277.)

Causas da possessão

Punição, provação…

A permissão dada por Deus ao demônio de, na possessão apoderar-se assim dos órgãos corporais e das faculdades espirituais de uma criatura humana, é, às vezes, punição de certos pecados graves cometidos pelos possessos, em particular os pecados da carne. Entretanto não é sempre assim. Um endemoniado não é necessariamente culpado. Algumas vezes, Deus permite esse estado para ressaltar sua glória pela intervenção ostensiva de seu poder absoluto (cf. Jo 9, 1-8), ou para provar os possessos.

São Boaventura explica que Deus permite a possessão “seja em vista de manifestar sua glória, obrigando o demônio pela boca possesso a confessar, por exemplo, a divindade de Cristo, seja para punição do pecado, seja para nossa instrução. Mas, por qual dessas causas precisamente ele deixa o demônio possuir um homem, é o que escapa à sagacidade humana: os julgamentos de Deus são escondidos aos homens. O que é certo, é que eles são sempre justos”

O caráter espetacular da possessão acaba por apresentar um efeito apologético e ascético benéfico, pois torna patente e quase visível a existência do Espírito das trevas.

Esta é uma das razões pelas quais Deus permite a possessão diabólica, pois obriga o Maligno a agir como que a descoberto, dando mostras públicas da sua maldade, do seu ódio contra o homem e a criação.

Práticas supersticiosas, espiritismo, macumba

Não devemos esquecer, entre as causas das infestações e da possessão, as práticas supersticiosas, o recurso a magos, pais-de-santo, cartomantes, adivinhos, etc.

“O demônio, quando um homem colabora com ele em práticas supersticiosas, facilmente exerce sobre esse indivíduo a mais cruel e implacável tirania” — observa o Cardeal Lepicier. Ele chama a atenção para as práticas espíritas: “Não pode haver dúvida de que atuar como médium é o mesmo que expor-se aos perigos da obsessão diabólica … Recorrer a um médium é, pois, equivalente a cooperar na obsessão de uma pessoa”.Uma das causas muito comuns da ação extraordinária do demônio sobre pessoas é o malefício, a respeito do qual falaremos adiante. O Pe. Gabriele Amorth, exorcista da Diocese de Roma, afirma que os casos mais difíceis de infestação e de possessão diabólica que ele tem encontrado são os resultantes de macumbas realizadas no Brasil e na África. Existem ainda casos de possessão voluntária, em que a pessoa que recorreu ao diabo e fez um pacto com ele pode agir como um instrumento do Maligno para levar avante os desígnios dele. A figura típica do médium de Satanás, foi Hitler, segundo julga o teólogo e demonólogo beneditino austríaco Dom Aloïs Mager.(“Não há nenhuma outra definição mais breve, mais precisa, mais adaptada à natureza de Hitler que esta tão absolutamente expressiva: Medium de Satã.Poderiam ser mencionadas igualmente as figuras sinistras de Lenin, Stalin, e tantos outros…

Frequência da possessão

Após o estabelecimento da Igreja, o número dos demoníacos diminuiu, de muito, nas nações tomadas cristãs. E que, pelo Batismo e demais Sacramentos, os fiéis são preservados desses ataques sensíveis do demônio. Este perdeu seu império, mesmo sobre aqueles que, embora batizados, vivem de maneira pouco conforme com à Fé de seu Batismo. Membros da Igreja, embora membros mortos, eles encontram nessa união, entretanto imperfeita, ao Corpo Místico de Cristo, um socorro em geral suficiente para que o demônio não possa apoderar-se deles, como faria, se se tratasse de pagãos. “Entretanto — observa o Pe. Ortolan — não somente nas regiões que não receberam o Evangelho, mas também naqueles em que a Igreja está estabelecida, encontram-se ainda demoníacos. Seu número aumenta na proporção do grau de apostasia das nações que, outrora católicas, abandonam pouco a pouco a Fé, e retornam ao paganismo teórico e prático”.

O que é obsessão demoníaca?

 Segundo o padre Balducci, também pode acontecer por meio de visões, sentimentos diversos (raiva, desespero, medo, etc), maus odores, barulhos estranhos, palavras ou canções obscenas e/ou blasfemas, tapas, arranhões, empurrões, etc.(2)*

 Também ele atribui a maior parte da ocorrência em pessoas de vida santa, como podemos verificar ao longo da história da Igreja:

 Santa Catarina de Sena (1343-1380), São Francisco Xavier (1506-1552), Santa Tereza de Ávila (1515-1582), Santa Madalena de Pazi (1566-1607), Santa Rosa de Lima (1586-1617), São João Maria Vianney (1786-1859), São João Bosco (1815-1888), Santa Gema Galgani (1878-1903).

 O padre espanhol José Fortea classifica-a como influência (externa ou interna, dependendo da fenomenologia), além do renomado padre Amorth que também oferece em seus livros um embasamento mais profundo acerca deste e dos outros tipos de manifestação demoníaca.

 A partir da conceituação desses e de outros padres exorcistas a respeito desse fenômeno podemos perceber que a obsessão demoníaca apresenta uma gama de sintomas que vão além da obsessão puramente psicológica, pois os mesmos não restringem-se a idéias permanentes e aparentemente inconvenientes. Além do mais, muitos casos de obsessão ultrapassam o campo das idéias e pensamentos, chegando a causar danos físicos a vítima, como foram os casos de padre Pio e de São João Maria Vianney.

 À pessoa que sofre este tipo de ataque por parte do inimigo classifica-se como obsesso e não obcecado, pois o significado deste termo remete a obscurecido; cego de entendimento, enquanto que o termo obsesso se refere a alguém que está dominado por uma obsessão; atormentado ou Indivíduo que se supõe influenciado ou dominado pelo demônio.

O EXORCISMO E OS FRUTOS DA LIBERTAÇÃO

-Como a Santa Igreja identifica uma possessão verdadeira?

“A Sagrada Escritura nos ensina que os espíritos malignos, inimigos de Deus e do homem, desenvolvem sua ação de diversas maneiras; entre elas está a obsessão diabólica chamada também possessão diabólica. Entretanto, a obsessão diabólica não é o modo mais freqüente como o espírito das trevas exerce sua influência. A obsessão tem características de espetacularidade e nela o demônio se apodera, de um certo modo, das forças e das atividades físicas da pessoa que padece a possessão. Não pode, entretanto, apoderar-se da livre vontade do sujeito, e por isso o demônio não pode comprometer a vontade livre da pessoa possuída até o ponto de fazê-la pecar. Esta violência física que o diabo exerce no obsesso é uma incitação ao pecado, que é o que o diabo busca lograr. O ritual do exorcismo indica diversos critério e indícios que permitem chegar, com prudente certeza, à convicção de quando se tem diante de si uma possessão diabólica. Então o exorcista autorizado poderá realizar o solene rito do exorcismo. Entre estes critérios encontram-se: falar ou entender muitas palavras em línguas desconhecidas, evidenciar coisas distantes ou inclusive escondidas, demonstrar forças além da própria condição, e isto junto com a aversão veemente a Deus, à Virgem, aos Santos, à Cruz e às imagens santas.”

Após identificada, qual o próximo passo? 

Vale a pena destacar que para poder realizar o exorcismo é necessária autorização do Bispo diocesano, autorização que pode ser concedida para um caso específico ou também de modo geral e permanente ao Sacerdote que exerce na diocese o ministério de exorcista.

Como um exorcismo é realizado?

No ritual encontra-se, antes de tudo, o rito do exorcismo propriamente dito, a ser exercitado sobre uma pessoa possessa. Seguem as orações a recitar-se publicamente por um sacerdote, com a permissão do Bispo, quando se julga prudentemente que existe uma influência de Satanás sobre lugares, objetos ou pessoas, sem chegar ao estado de uma possessão própria e verdadeira. Há, além disso, uma coleção de orações para recitar de forma privada por parte dos fiéis, quando estes suspeitam com fundamento de estarem sujeitos ou sob influência diabólica.

O exorcismo tem como ponto de partida a fé da Igreja, segundo a qual existem Satanás e os outros espíritos malignos, e que sua atividade consiste em afastar os homens do caminho da salvação. A doutrina católica nos ensina que os demônios são anjos caídos por causa do pecado, que são espíritos de grande inteligência e poder: “Entretanto, o poder de Satanás não é infinito. Não é mais do que uma criatura, poderosa pelo fato de ser puramente espírito, mas sempre criatura: não pode impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás atue no mundo por ódio contra Deus e seu Reino em Jesus Cristo, e embora sua ação cause graves danos de natureza espiritual e indiretamente inclusive de natureza física – em cada homem e na sociedade, esta ação é permitida pela divina providência que com força e doçura dirige a história do homem e do mundo. Porque Deus permite a atividade diabólica é um grande mistério, mas “nós sabemos que em todas as coisas Deus intervém para bem dos que o amam” (Rm 8, 28)” (Catecismo da Igreja Católica, n. 395).

Conforme a instrução sobre o exorcismo publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé, cabe observar quantos aos leigos:

1. O cânon 1172 do Código de Direito Canônico declara que a ninguém é lícito proferir exorcismo sobre pessoas possessas, a não ser que o Ordinário do lugar tenha concedido peculiar e explícita licença para tanto (1º). Determina também que esta licença só pode ser concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, sabedoria, prudência e integridade de vida (2º). Por conseguinte, os srs. Bispos são convidados a urgir a observância de tais preceitos.

2. Destas prescrições, segue-se que não é lícito aos fiéis cristãos utilizar a fórmula de exorcismo contra Satanás e os anjos apóstatas, contida no Rito que foi publicado por ordem do Sumo Pontífice Leão XIII; muito menos lhes é lícito aplicar o texto inteiro deste exorcismo. Os srs. Bispos tratem de admoestar os fiéis a propósito, desde que haja necessidade.

Existem muitos casos anualmente?

Segundo o Padre Gabriele Amorth, um dos maiores especialistas neste assunto: “Há quase três séculos que na Igreja católica quase não se fazem exorcismos. No ensino acadêmico, nos últimos decênios quase nunca se fala do demônio, e muito menos dos exorcismos. Atualmente o clero, em geral, é completamente despreparado sobre esse tema, salvo raríssimas exceções.”

 

RITO  DO  EXORCISMO – Texto oficial  em  língua  latina

 

Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incursio infernalis adversarii, omnis legio, omnis congregatio et secta diabolica, in nomine et virtute Domini Nostri Jesu + Christi, eradicare et effugare a Dei Ecclesia, ab animabus ad imaginem Dei conditis ac pretioso divini Agni sanguine redemptis + . Non ultra audeas, serpens callidissime, decipere humanum genus, Dei Ecclesiam persequi, ac Dei electos excutere et cribrare sicut triticum + . Imperat tibi Deus altissimus + , cui in magna tua superbia te similem haberi adhuc præsumis; qui omnes homines vult salvos fieri et ad agnitionem veritaris venire. Imperat tibi Deus Pater + ; imperat tibi Deus Filius + ; imperat tibi Deus Spiritus Sanctus + . Imperat tibi majestas Christi, æternum Dei Verbum, caro factum + , qui pro salute generis nostri tua invidia perditi, humiliavit semetipsum facfus hobediens usque ad mortem; qui Ecclesiam suam ædificavit supra firmam petram, et portas inferi adversus eam nunquam esse prævalituras edixit, cum ea ipse permansurus omnibus diebus usque ad consummationem sæculi. Imperat tibi sacramentum Crucis + , omniumque christianæ fidei Mysteriorum virtus +. Imperat tibi excelsa Dei Genitrix Virgo Maria + , quæ superbissimum caput tuum a primo instanti immaculatæ suæ conceptionis in sua humilitate contrivit. Imperat tibi fides sanctorum Apostolorum Petri et Pauli, et ceterorum Apostolorum + . Imperat tibi Martyrum sanguis, ac pia Sanctorum et Sanctarum omnium intercessio +.

 

Ergo, draco maledicte et omnis legio diabolica, adjuramus te per Deum + vivum, per Deum + verum, per Deum + sanctum, per Deum qui sic dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret, ut omnes qui credit in eum non pereat, sed habeat vitam æternam: cessa decipere humanas creaturas, eisque æternæ perditionìs venenum propinare: desine Ecclesiæ nocere, et ejus libertati laqueos injicere. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciæ, hostis humanæ salutis. Da locum Christo, in quo nihil invenisti de operibus tuis; da locum Ecclesiæ uni, sanctæ, catholicæ, et apostolicæ, quam Christus ipse acquisivit sanguine suo. Humiliare sub potenti manu Dei; contremisce et effuge, invocato a nobis sancto et terribili nomine Jesu, quem inferi tremunt, cui Virtutes cælorum et Potestates et Dominationes subjectæ sunt; quem Cherubim et Seraphim indefessis vocibus laudant, dicentes: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth.

 

  1. Domine, exaudi orationem meam.

 

  1. Et clamor meus ad te veniat.

 

[si fuerit saltem diaconus subjungat V. Dominus vobiscum.

 

  1. Et cum spiritu tuo.]

 

Oremus.

 

Deus coeli, Deus terræ, Deus Angelorum, Deus Archangelorum, Deus Patriarcharum, Deus Prophetarum, Deus Apostolorum, Deus Martyrum, Deus Confessorum, Deus Virginum, Deus qui potestatem habes donare vitam post mortem, requiem post laborem; quia non est Deus præter te, nec esse potest nisi tu creator omnium visibilium et invisibilium, cujus regni non erit finis: humiIiter majestati gloriæ tuæ supplicamus, ut ab omni infernalium spirituum potestate, laqueo, deceptione et nequitia nos potenter liberare, et incolumes custodire digneris. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

Ab insidiis diaboli, libera nos, Domine.

Ut Ecclesiam tuam secura tibi facias libertate servire, te rogamus, audi nos.

Ut inimicos sanctæ Ecclesiæ humiliare digneris, te rogamus audi nos.

Et aspergatur locus aqua benedict.

PE. GUIDO MOTTINELLI, RCJ

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Comentários

  1. Padre Guido, é possível uma pessoa comum presenciar o falecimento de outro onde se queria bem de coração puro,perceber a saída do seu anjo da guarda do corpo(ou seu espírito)e o mesmo acalmar a pessoa amiga para que está o leve até o destino correto ou seja ao hospital,mas sendo que percebe que ali já havia desprendido o espírito?

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