Mensagem aos padres do Brasil

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Caros irmãos, a Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada sente-se no dever de saudá-los, cordial e fraternalmente, por ocasião do Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, anualmente celebrado na solenidade do Sagrado Coração de Jesus. A Igreja realiza este Dia Mundial de Oração com a finalidade de ajudar os presbíteros a aprofundar a união com Jesus Cristo e com os irmãos e as irmãs, na fidelidade aos compromissos assumidos na ordenação presbiteral. “A vocação sacerdotal é um dom de Deus, que constitui certamente um grande bem para aquele que é o seu primeiro destinatário. Mas é também um dom para a Igreja inteira, um bem para a sua vida e missão (CNBB, Doc. 93, nº 104). Por isto, neste dia, as comunidades, a quem servimos pastoralmente, são convocadas a rezar conosco e por nós para a nossa santificação.

 

Estamos em plena vigência da mudança de época. Tudo muda rapidamente, até mesmo na vida e no ministério presbiteral. No entanto, uma coisa permanece para sempre: a nossa configuração com Jesus Cristo (Cf. PDV 5). O sacramento da ordem nos configura e nos incorpora a Jesus Cristo, santo, misericordioso, manso e humilde de coração. Quem é ordenado entra numa ordem, a ordem presbiteral. Esta configuração e esta incorporação nos candidatam à santidade, enquanto presbíteros. “Do ser configurado com Cristo decorre um agir conforme ao de Cristo” (CNBB, Doc. 93, nº 50).

 

A nossa missão, irmãos, enquanto ministros ordenados têm seus segredos, seus encantos e suas paixões. O segredo da vocação presbiteral está no encantamento por Jesus, por sua Igreja e pelo seu povo. Ninguém segue fielmente, por muito tempo, a alguém por quem não tenha encantamento. O segredo da fidelidade presbiteral radical está no encantamento por Jesus, por sua pessoa e por seu projeto de vida. O segredo do seguimento missionário está no encantamento pelo estilo e pelo modelo de vida missionária de Jesus. O segredo da vida missionária está na capacidade de se encantar ou se reencantar cada dia, de começar sempre de novo, sem olhar para trás. Quem assim não vive, a chama da vocação se apaga, a vida perde o sentido, vira rotina e dificilmente se mantém, por muito tempo, na missão.

 

Como os apóstolos, tornamo-nos discípulos missionários de Jesus, deixando barcos, redes, pátria, família e projetos pessoais. Às vezes, após um tempo de caminhada, a vida de fé é invadida por uma crescente insensibilidade; os valores evangélicos vão perdendo sentido; a oração vai se tornando árida e fatigante; os compromissos apostólicos ou sociais vão perdendo a novidade; experimentam-se desilusões e fracassos; e o pior, a escuridão que nos leva para longe do Senhor.

 

A oração, no entanto, constante e bem feita faz milagre. Jesus diz que há alguns demônios que só podem ser expulsos pela oração (Mc 9,29). Vejamos o exemplo do sacerdote Zacarias que, em meio à crise que o levou à mudez, decorrente do não acreditar na promessa de gerar um filho, mesmo na velhice, compôs este cântico que rezamos todas as manhãs, nas laudes da Liturgia das Horas: “…de conceder-nos que, libertos do inimigo, a ele nós sirvamos sem temor, em santidade e justiça diante dele, enquanto perdurarem nossos dias” (Lc 1,72-74). A oração o salvou da mudez e da esterilidade.

 

A busca da santidade deve ser uma constante em nossa vida. Renovar cada dia o compromisso com Jesus, optando pelo radicalismo do evangelho de forma mais lúcida e madura, leva-nos à santidade. Esta não deve ser buscada por motivos emocionais e psicológicos e sim pela configuração a Jesus Cristo, Homem de oração. É a santidade que nos conduz à pobreza e ao compromisso solidário com os pobres e excluídos da sociedade. Para se viver esta santidade, é necessário que a cada dia aconteça em nós a conversão pessoal e pastoral. Somos santos, à medida que nos deixarmos conduzir pelo Senhor na fé, na cruz e na esperança.

 

O cuidado da vida espiritual, o qual nos afasta da tibieza, deve ser um dever que infunde fé, esperança e alegria. Os fiéis têm sede de presbíteros, homens de Deus, conselheiros, mediadores de paz, amigos fiéis e prudentes, guias seguros em quem confiar nos momentos duros da vida para encontrar conforto e segurança. O Documento de Aparecida lembra que “o povo de Deus sente a necessidade de presbíteros discípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais afastados pregando a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros servidores da vida: que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação” (DAp 199).

 

Na homilia da missa crismal, na quinta feira-santa, o papa Francisco disse que “as pessoas agradecem-nos porque sentem que rezamos a partir das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: ‘Reze por mim, padre, porque tenho este problema’, ‘abençoe-me, padre’, ‘reze para mim’… Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica – súplica do povo de Deus. Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu povo e a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens”.

 

Temos, portanto, três campos ou três espaços para o nosso trabalho que nos fazem homens de três lugares: o púlpito e o altar, de onde distribuímos o pão da palavra e o pão da Eucaristia; o confessionário, de onde exercemos o ministério do perdão; e a estrada, onde gastamos nossa vida em busca das ovelhas perdidas.

 

Caríssimos, o nosso querido papa Francisco nos quer “pastores com cheiro das ovelhas”. Ele também diz preferir uma “Igreja acidentada por sair de si, do que uma doente por fechar-se em si mesma”.

 

Que Deus Pai renove em nós, presbíteros, o Espírito de santidade, com o qual fomos ungidos, e renove também nossas mentes e nossos corações para que o povo sinta que somos discípulos missionários de Jesus Cristo, comprometidos com o evangelho da vida e da santidade.

 

Unamo-nos, rezemos uns pelos outros e contemos também com a oração do povo para permanecermos firmes na fé, na oração e na missão para sermos pastores segundo o Coração de Jesus.

 

Palmas, 19 de maio de 2013

Festa de Pentecostes

Dom Pedro Brito Guimarães,

Arcebispo metropolitano de Palmas e

Presidente da Comissão para os
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada

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