“Além de indicar “saber”, a palavra sabedoria sugere também o termo “sabor”. Podemos, com isto, entender sabedoria de duas formas: uma ligada mais às coisas do mundo, com as exigências próprias de influência da cultura moderna, e sabedoria conforme as propostas do Reino de Deus, contidas nos livros da Sagrada Escritura. É preciso ter sabor pelo saber. Aliás, estamos no mundo do conhecimento onde vemos que, quase sempre avança e vence, quem sabe mais. A sabedoria é um dom, mas também fruto de esforço pessoal. “Ninguém nasce sabendo”, mas tem que fazer um caminho de conquista, de muito estudo, de ir ao encontro do saber com sabor.
O Rei Salomão pede sabedoria para governar bem o seu povo. Por isto tinha fama de sábio, julgava com prudência, discernimento e ponderação (I Rs 3,9). Mas não basta apenas esforço de inteligência para conseguir sabedoria. Salomão entendeu isto e pediu a Deus justamente sabedoria. Pode ser que esta atitude esteja faltando em muitas pessoas dos novos tempos. Na visão bíblica, é chamado de sábio quem for capaz de renunciar e ser desapegado do que é do mundo. Significa colocar as coisas nos seus devidos lugares, valorizando o que nos leva ao encontro com Deus. São atitudes que, aos olhos do mundo, parecem ser de loucura. Pensando bem, no mundo muita coisa não passa de simples vaidade.
Temos que investir naquilo que traz segurança e não é passageiro. Certos acúmulos desnecessários causam vida vazia e falta de compromisso com o bem comum. Isto pode ser causa de frustração eterna. Não podemos perder o “bom senso”, tendo medo de investir tudo no que julga ser o sentido último da vida e saltar com coragem. Muitas formas de agir levam a pessoa à escravidão. Provocar isto é não ter sabedoria e viver na submissão. Ser sábio é ser capaz de derrubar estruturas injustas e prejudiciais ao bem viver das pessoas. É olhar para frente na conquista de novos tempos com otimismo, vibração e de construção de uma sociedade mais humana.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)