Diferente da festa hebraica, que comemorava o dom da Lei e da Aliança no monte Sinai por Moisés, o Pentecostes cristão é a festa do Espírito Santo, na qual teve origem a Igreja. Nela, ocorreu o Batismo de fogo anunciado pelo profeta João Batista: “Eu vos batizo com água, mas vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16).
Nos primórdios da Igreja, Santo Irineu afirmava que o Pai tinha duas mãos: O Filho e o Espírito Santo. Talvez, ao longo desses dois milênios de cristianismo, tenhamos privilegiado mais a mão do Filho que a do Espírito Santo, esquecendo que ambas são do Pai e moldam a Igreja, a qual nasceu com a efusão do Espírito, em Jerusalém. Não podemos esquecer que nossa fé é trinitária. O Pai nos criou e nos ama; o Filho nos redimiu; o Espírito Santo nos faz prosseguir a missão de Jesus e continuar a sua obra.
A efusão do Espírito Santo na obra de Lucas
Lucas foi o único evangelista que escreveu uma obra em dois volumes: Evangelho e Atos dos Apóstolos. No seu primeiro volume, o evangelho, Lucas apresenta o caminho de Jesus de Nazaré, até Jerusalém. No segundo volume, o livro dos Atos dos Apóstolos, o autor apresenta o caminho das comunidades cristãs à luz do Espírito Santo. Na obra de Lucas, a cidade de Jerusalém é o ponto de chegada de Jesus e de partida dos discípulos que deverão continuar a sua obra. No evangelho, Lucas apresenta a pessoa e o ministério de Jesus e no livro dos Atos, o caminho da Igreja nascente à luz do Espírito Santo.
O título que a tradição cristã deu ao segundo volume da obra de Lucas, Atos dos Apóstolos, não corresponde plenamente à realidade deste livro. Seria mais correto chamar este livro de Atos do Espírito Santo sobre os apóstolos, e de modo particular, sobre os apóstolos Pedro e Paulo. Estes são os dois personagens mais presentes e atuantes deste segundo volume da obra lucana.
O livro dos Atos dos Apóstolos, que sugerimos chamá-lo de “Atos do Espírito Santo”, relata as três primeiras décadas da caminhada das comunidades, entre os anos 30 e 60 d.C.. Neste volume de Lucas, encontramos várias manifestações do Espírito Santo (cf. At 4,31; 10,44-45; 19,4-6). Porém, o texto sobre o qual meditamos é o que encontramos na primeira leitura da Liturgia da Palavra na celebração de Pentecostes (cf. At 2,1-11).
Do contexto ao texto
Antes da chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes, não podemos afirmar que já havia uma comunidade cristã no sentido pleno da expressão. Era apenas um grupo de pessoas assustadas, medrosas e inseguras diante dos últimos acontecimentos ocorridos em Jerusalém (cf. Lc 24,18-24). Depois da Ascensão de Jesus (cf. At 1,6ss), Lucas observa que os Apóstolos estão todos olhando para o céu como que esquecendo de continuar a missão evangelizadora (cf. At 1,11). Os mensageiros de Deus alertam os apóstolos dizendo que Jesus foi arrebatado para o céu e caberá a eles tomar o seu lugar na terra para prosseguir a obra do Evangelho.
A primeira preocupação dos apóstolos, que permaneciam unidos em oração com Maria e outras mulheres à espera do Espírito Santo (cf. At 1,12-14), foi completar o número deles a partir de um sorteio, para que o grupo pudesse recuperar o valor simbólico do número Doze. Foi escolhido Matias, o qual ocupou o lugar de Judas, o traidor, que segundo a tradição, teve um fim trágico (cf. At 1,15-26). Após reestruturar o grupo dos Apóstolos, o qual deverá continuar a missão de Jesus, Lucas narra a chegada do Espírito Santo (cf. At 2,1-11) e o posterior discurso de Pedro, que provocou grande número de conversões (cf. At 2,14-41). O evangelista apresenta também a vida das primeiras comunidades cristãs (cf. At 2,42-47).
No segundo capítulo do livro dos Atos, Lucas destaca e situa duas forças que juntas impulsionaram os seguidores de Jesus e as comunidades: O Espírito Santo, que ilumina e unifica; e a palavra de Pedro, que revela o sentido da vida de Jesus e aponta os caminhos para as comunidades seguidoras do Cristo ressuscitado.
Com a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes, começa o testemunho e a missão dos discípulos de Jesus. Antes, todos estavam dominados pelo medo e pela incompreensão da pessoa e da ressurreição de Jesus Cristo. Foi a partir do dom do Espírito Santo que todos assumiram a fé, a qual os levou a proclamar e a testemunhar a Boa Notícia em Jerusalém e em muitos outros lugares (cf. At 8,29.39; 10,38.44-47; 11,12.15; 13,2.4).
O texto de Pentecostes apresentado em quatro partes:
I Parte – A festa de Pentecostes
“1. Enquanto o dia de Pentecostes chegava ao fim, estavam todos reunidos no mesmo lugar.”
II Parte – O dom do Espírito Santo: ruído, vento e fogo
“2. De repente, veio do céu um ruído como de violento vendaval, que encheu toda a casa onde se encontravam. 3. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e pousavam sobre cada um deles. 4. Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia exprimirem-se.”
III Parte – o dom da comunicação em línguas
“5. Ora, em Jerusalém residiam judeus piedosos, vindos de todas as nações que há debaixo do céu. 6. Com o rumor que se propagava, uma multidão reuniu-se e ficou confusa, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7. Perplexos e maravilhados, diziam: Estes que estão falando não são todos galileus? 8. Como é, pois, que os ouçamos falar, cada um de nós, em nossa língua materna?”
IV Parte – As doze nações: universalidade da missão
“9. Partos, medos, elamitas e habitantes da Mesopotâmia, da Judéia, da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10. da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia cirenaica, os de Roma que aqui residem, 11. tanto judeus como convertidos ao judaísmo, cretenses e árabes, todos os ouvimos anunciar em nossas línguas as grandes obras de Deus.”
A origem da festa de Pentecostes
Pentecostes é uma festa judaica celebrada cinqüenta dias após a páscoa, quando os judeus recordavam o dom da Lei e da Aliança no Sinai, entre Deus e Israel. Nesta festa, os judeus renovavam a Aliança e lembravam a antiga festa da colheita: “guardarás a festa das semanas: as primícias da colheita do trigo e a festa da colheita na passagem do ano” (Ex 34,22).
Lucas apresenta a efusão do Espírito Santo na moldura da festa judaica. A vinda do Espírito Santo é conhecida no meio cristão como o dia de Pentecostes. O Espírito Santo conduz a comunidade à plenitude da Aliança, que não consiste em observar a antiga lei, mas em realizar o projeto de Deus e continuar a obra de Jesus. Deste modo, cumprem-se as palavras do profeta Jeremias: “Dias virão em que selarei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança” (Jr 31,31).
No tempo de Jesus, o dia de Pentecostes, também chamado de qüinquagésimo dia, era celebrado por vários grupos em datas diferentes. O grupo dos saduceus contava 50 dias a partir da páscoa. Os fariseus contavam a partir do primeiro sábado depois da páscoa e os essênios aproveitavam da festa de Pentecostes para admitir novos membros na comunidade. Não sabemos com certeza a qual destas datas Lucas se refere. Por outro lado, o calendário litúrgico do grupo dos fariseus, conhecidos pelo seu rigor na observância da lei, foi o que prevaleceu no tempo das primeiras comunidades cristãs.
Lucas quer sugerir que o Espírito Santo é o novo dom de Deus, que ocupa o lugar da antiga lei recebida por Moisés no monte Sinai e conduz todos à plenitude da Aliança. No lugar das tábuas de pedra, onde estavam gravados os mandamentos, Lucas apresenta o Espírito Santo, que chega esculpindo no coração a memória de Jesus, enviando-os para a missão de dar testemunho do Ressuscitado e anunciá-lo até os confins do mundo (cf. At 1,8). Para Lucas, a efusão do Espírito Santo no quinquagésimo dia após a páscoa, dez dias depois da Ascensão do Senhor, a qual foi precedida por quarenta dias de aparições de Jesus ressuscitado (cf. At 1,3.6-11), pode ser comparada ao dom da Aliança, quando foi entregue o decálogo que garantia vida para todos. Com a chegada do Espírito Santo, o evangelista mostra o nascimento do novo Israel, a Igreja. A comunidade cristã forma o novo povo de Deus que recebe o dom do Espírito e parte para a missão evangelizadora.
O texto começa com a apresentação solene das circunstâncias de tempo e lugar: “Enquanto o dia de Pentecostes chegava ao fim, estavam todos reunidos no mesmo lugar.” (At 2,1). O evangelista observa que a vinda do Espírito Santo na festa do Pentecostes ocorre quando o dia já está chegando ao fim. Parece que Lucas deseja fazer alusão ao nascimento de uma nova fase da história. A antiga história chegou ao seu “fim“, com a vinda do Espírito Santo começa o novo tempo. Esta nova fase da história do povo de Deus se dá à luz do Espírito Santo “que vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).
Lucas afirma, no primeiro versículo do texto, “que todos estavam reunidos no mesmo lugar“. É difícil precisar quantas pessoas estavam ali reunidas. Anteriormente, o evangelista mencionou a presença de aproximadamente 120 pessoas, que, juntas com os Apóstolos, formavam a primeira comunidade cristã, o embrião da Igreja (cf. At 1,15). Para alguns biblistas, trata-se apenas dos Apóstolos relacionados no capítulo anterior (cf. At 1,13-14), além de Matias que substituiu Judas, o traidor, Maria, a mãe de Jesus e algumas mulheres. De qualquer maneira, temos uma comunidade reunida provavelmente na mesma sala onde Jesus havia celebrado com eles a páscoa e a Eucaristia, ademais de lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 1-15). Nesta sala, lugar de encontro, reunião e oração, estava o novo povo de Deus, o qual receberá o dom do Espírito Santo, assim como no passado estava o povo de Israel esperando, no Sinai, o dom da Lei.
O dom do Espírito Santo: ruído, vento e fogo
Ao descrever os sinais que indicam a chegada do Espírito Santo – ruído, vento e fogo – Lucas afirma que eles vieram do céu (At 2,2). O evangelista deixa claro que não se trata de invenções, sugestões ou produções humanas, mas é dom que vem de Deus, conforme Jesus havia prometido: “Durante uma refeição com eles, Jesus lhes recomendou que não deixassem Jerusalém, mas esperassem aí a promessa do Pai, aquela, disse, que ouvistes de minha boca: João batizava com água, mas vós, é no Espírito Santo que sereis batizados daqui a poucos dias” (At 1,4-5). Isto significa que Deus está agindo sobre aqueles que devem testemunhar a Nova Aliança selada em Jesus Cristo.
As manifestações do Espírito Santo descritas por Lucas são típicas no Antigo Testamento. No livro do Êxodo encontramos algumas teofanias (manifestações de Deus) semelhantes às adotadas pelo evangelista. No monte Sinai, quando Deus fez aliança com o seu povo, vemos: “Ao amanhecer do terceiro dia, houve trovões, relâmpagos e uma nuvem espessa sobre a montanha, e um clamor muito forte de trombeta; o povo que estava no acampamento pôs-se a tremer” (Ex 19,16). Deste modo, podemos afirmar que Jerusalém é para Lucas o novo Sinai onde Deus novamente se manifesta. O profeta Isaías escreveu: “Com efeito, Iahweh virá no fogo, com os seus carros de guerra, como um furacão, para alcançar com ardor a sua ira e a sua ameaça com chamas de fogo” (Is 66,15). E no Salmo lemos: “À sua frente há um fogo que devora, e ao seu redor tempestade violenta” (Sl 50,3). As imagens do ruído, vento e fogo usadas por Lucas são os símbolos clássicos do Antigo Testamento para indicar a presença do Espírito Santo.
A imagem do vento, que provoca movimento e rumor, recorda o livro do Gênesis, quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas na criação (cf. Gn 1,2). No evangelho de João, Jesus, dialogando com o fariseu Nicodemos, também relaciona a imagem do vento ao Espírito: “O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é Espírito. Não te admires de Eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito” (Jo 3,6-8).
A imagem das línguas de fogo recorda uma antiga tradição, segundo a qual no monte Sinai, a voz de Deus foi depois pronunciada em setenta línguas, para que todas as nações relacionadas no livro de Gênesis (cf. Gn 10) pudessem entender e salvar Israel. As línguas de fogo indicam também o dom profético, conforme aparece em Isaías (cf. Is 32,15). Todos, a partir daquele momento, começaram a pregar o Evangelho e a agirem como profetas do Reino (cf. At 4,31).
Ao longo dos dois volumes da obra de Lucas, evangelho e Atos, aparecem muitos personagens repletos do Espírito Santo. Segundo esse evangelista, Isabel, Zacarias, Maria, João Batista, Jesus, Simeão e muitos personagens dos Atos dos Apóstolos estão cheios do Espírito Santo. Esta mesma realidade Lucas aplica ao texto que estamos meditando, quando afirma que “todos ficaram repletos do Espírito Santo” (At 2,4). Mas, em Pentecostes, notamos certo privilégio, uma vez que foi a partir desta efusão do Espírito Santo, prometida pelo Pai e por Jesus, que se iniciou propriamente o tempo da Igreja, a missão (cf. Lc 24,48).
A comunicação em línguas
A ação dinâmica e transformadora do Espírito Santo, que vem do céu – procedência divina, dá a todos uma grande força de comunicação. A língua, principal instrumento da comunicação humana, a partir daqui, proclamará corajosamente a Boa Notícia de Jesus. O dom do Espírito Santo, possibilitando a comunicação em línguas diversas, não significa privilégio pessoal de alguns, mas compromisso de comunicar e espalhar a Boa Notícia do Evangelho por todo o mundo. Observa-se também que não se tratava de línguas estranhas e desconhecidas, uma vez que “cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2,6).
O dom das línguas é para responder a uma necessidade concreta da missão de comunicar o Evangelho a todas as nações relacionadas pelo evangelista (cf. At 2,9-11). A língua favorece a comunicação e as relações humanas, permitindo a comunhão, a fraternidade e a partilha que são grandes valores do Evangelho.
A presença do Espírito Santo conduz todos à integração, criando espaços para novas e evangélicas relações entre as pessoas. O dom das línguas em Pentecostes contrapõe-se à realidade que aconteceu antigamente, quando os homens se rebelaram contra Deus, chegando a construir a torre de Babel, onde “Iahweh os dispersou dali por toda a face da terra, e eles cessaram de construir a cidade. Por isso deu-se a ela o nome de Babel, pois foi lá que Iahweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra…” (Gn 11,8ss).
Segundo Lucas falar em línguas é um dom do Espírito Santo, que visa restabelecer a unidade e a comunhão perdida em Babel. Esse dom também indica a missão universal dos apóstolos de levar o Evangelho a todas as nações. À luz do Espírito Santo, os apóstolos se assemelham aos antigos profetas de Israel, citados por Pedro, no seu primeiro discurso, logo após a vinda do Espírito: “Sucederá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões…” (At 2,17). Estas palavras de Pedro, tiradas do livro do profeta Joel (cf. Jl 3,1-5), relacionam todos aqueles que receberam o Espírito Santo na festa de Pentecostes com os profetas de Israel. Deste modo, o evangelista mostra o Espírito Santo como aquele que faz a conexão entre o tempo dos profetas e o tempo dos apóstolos, os quais receberam a missão de testemunhar e continuar a obra de Jesus.
Nas primitivas comunidades cristãs, existia o fenômeno da “glossolalia”, que consistia em falar em línguas, utilizando-se de palavras estrangeiras de alguns idiomas conhecidos da época, para comunicar e cantar louvores a Deus (cf. 1Cor 12-14). A preocupação de Lucas não é mostrar pessoas pronunciando palavras de idiomas desconhecidos. O evangelista quer ressaltar o dom de falar em línguas como sinal da presença iluminadora do Espírito Santo àqueles que foram chamados a anunciarem o Evangelho. Portanto, o dom de falar em línguas provoca alegria e humildade no coração agraciado por Deus, para realizar a missão de comunicar a verdade libertadora (cf. Jo 8,32).
As doze nações: a universalidade da missão
A lista das doze nações mencionadas por Lucas simboliza todo o mundo habitado da época. Elas representam a humanidade chamada a um novo tempo à luz do Espírito Santo. A lista segue uma certa ordem geográfica, que vai do leste ao oeste e do norte ao sul, colocando a Judéia no centro. Ao apresentar essa lista, Lucas segue a tradição bíblica conforme aparece no livro do Gênesis, onde também encontramos uma relação de nações enumerando setenta povos para indicar todo o mundo habitado daquele tempo (cf. Gn 10).
O evangelista imagina todas as nações presentes em Jerusalém na festa de Pentecostes. Esta multidão de peregrinos será testemunha da efusão do Espírito Santo e receberá a mensagem do Evangelho, mediante o discurso inflamado de Pedro, o qual provoca numerosas conversões (cf. At 2,14-41).A partir da ressurreição de Jesus e da vinda do Espírito Santo, Pedro, que antes havia negado Jesus (cf. Lc 22,54-62), assume uma nova e corajosa postura, fazendo discursos e dando testemunho de Jesus Cristo ressuscitado.
A presença dos peregrinos das doze nações, em Jerusalém, assinala a universalidade da missão que deve alcançar todos os povos da terra. A partir da efusão do Espírito Santo, na qual nasce a Igreja, começa um novo tempo da história marcado pela missão. Esta consiste em levar o Evangelho a todas as nações (cf. At 2,5; Mt 28,19-20 ; Mc 16,15-20).
As diversas reações em Pentecostes
No texto que estamos meditando aparecem algumas interrogações. Juntas expressam as diferentes reações diante do evento de Pentecostes. Nos versículos 7 e 8 encontramos duas perguntas que manifestam as reações dos que se encontravam em Jerusalém no dia de Pentecostes: “7. Perplexos e maravilhados, diziam: Estes que estão falando não são todos galileus? 8. Como é, pois, que os ouçamos falar, cada um de nós, em nossa língua materna?” Tais reações mostram a perplexidade, a surpresa e a admiração suscitada pela efusão do Espírito Santo. O evangelista também acrescenta que além do sentimento de perplexidade, muitos buscavam entender e descobrir o significado daquele fato: “Que vem ser isto?” (At 2,12). Fica claro que nem todos compreendem e aceitam a vinda do Espírito Santo. Muitos terão dificuldades de aceitar e buscam explicações diferentes que negam a ação do Espírito Santo e a credibilidade dos Apóstolos: “Outros, porém, zombando deles, diziam: Eles estão cheios de vinho doce” (At 2,13). O evangelista faz questão de observar que nem todos estão abertos e dispostos a acolher o dom do Espírito Santo. A fé, mesmo depois de Pentecostes, será vivida em meio a conflitos e incompreensões, como Jesus já havia anunciado (cf. Lc 21,12-19; 1Cor 14,23).
A vinda do Espírito Santo despertou muitas interrogações que oscilam entre a aceitação e a rejeição. Muitos aderiram ao testemunho dos Apóstolos (cf. At 2,41), mas outros fazem ironias e rejeitam acusando os seguidores de Jesus de bêbados e permanecendo fechados à ação do Espírito.
A nova humanidade
Pentecostes foi uma experiência marcante no início da caminhada da comunidade cristã. Nesta festa todos são chamados a acolher o “Fogo de Deus“, inaugurando um novo tempo na vida dos seguidores de Jesus. A partir daquele momento, aquele grupo começa um novo caminho à luz do Espírito Santo de Deus.
O Espírito Santo está sempre presente nos discípulos missionários que comunicam a todas as nações o Evangelho de Jesus Cristo. Ele age livremente, orienta e anima as comunidades e toda a Igreja. Ele é o vento que sacudiu os Apóstolos, é o sopro que oxigena, é o fogo que aquece, purifica e ilumina o caminho dos seguidores de Jesus. Sem ele não há Igreja nem missão. Com Ele, que não se deixa manipular nem prever, continuemos anunciando a esperança e prosseguindo a obra de Jesus Cristo através da Igreja.