1. No Rogate, Jesus ensina a pedir: apóstolos ou trabalhadores?
No evangelho de Mateus encontramos o termo grego “έργάται“ (Mt 9,37) / “έργάτας” (Mt 9,38). Este substantivo plural geralmente é traduzido por “trabalhadores” (Veja por exemplo na Bíblia de Jerusalém, na Bíblia Pastoral e também na tradução da CNBB). Uma coisa é certa: nas duas citações do Rogate (Mt 9,35-38; Lc 10,2) Jesus manda pedir “trabalhadores” (= operários) e não apóstolos – “άποστέλλω”. Recordemos que no Novo Testamento o termo “apóstolo” geralmente indica os Doze (Mt 10,1-5; Mc 3,13-19). Podemos afirmar que entre os “trabalhadores” estão incluídos também os apóstolos. Mas, desde a perspectiva bíblica, não podemos reduzir o mandamento de Jesus ao pedido exclusivo por “apóstolos”. Tanto em Mateus quanto em Lucas o imperativo de Jesus que manda dar início à ação de “pedir operários” (Rogate = δεήθητε / aoristo plural com forma passiva e significado ativo) tem uma abrangência horizontal. O termo “operários” – “έργάται“ – inclui os “apóstolos” – “άποστέλλω” – e assinala os ministros (ordenados ou não), além de todos os outros servidores que de alguma maneira participam da missão evangelizadora na messe (= humanidade).
Ao lado da perspectiva bíblica do Rogate, temos a tradição de nossa família religiosa que nos remete ao tempo do Santo Fundador. Este trazia no coração a eclesiologia de sua época com seu jeito próprio de compreender a Igreja. De qualquer maneira entendemos que a perspectiva bíblica e a perspectiva de nossa genuína tradição se complementam.
2. A quem Jesus dirige o mandamento do Rogate?
Jesus ensinou o Rogate (Mt 9,35-38; Lc 10,2) ao grupo dos chamados e escolhidos, ou seja, aos discípulos. No contexto de Mateus, evangelho onde encontramos uma organização eclesial mais centralizada e coerente com o estilo judaico, Jesus pronuncia o imperativo Rogate (Mt 9,35-38) ao grupo dos discípulos, dentre os quais serão escolhidos os apóstolos (Mt 10,1-5). No primeiro evangelho a citação do Rogate precede a escolha dos Doze e aparece estreitamente vinculada a eles.
Os Doze, mesmo sendo um grupo numericamente menor, assinalam o novo povo de Deus, a comunidade cristã. Trata-se de um grupo menor – os Doze apóstolos – que representa o grupo maior – todos os discípulos e discípulas do Senhor.
Em Lucas, onde a organização da comunidade é menos centralizada e mais participativa, ou ainda, menos institucional e mais carismática se comparada à comunidade de Mateus, o mandamento do Rogate aparece como um dever de todos e não apenas dos Doze, isto é, o Rogate lucano é um mandamento, também do próprio Jesus, dirigido a todos os seus seguidores e seguidoras.
Em conclusão, podemos afirmar que Jesus dirige o mandamento do Rogate a todos os seus seguidores: discípulos, discípulas e apóstolos = à comunidade cristã / Igreja = novo povo de Deus.