Jovens e jovens

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Estou sempre em contato com jovens de diferentes realidades. Este relacionamento faz bem para a pessoa do padre e também para os jovens. Tenho, nestes anos, observado a juventude, seus traços, suas contradições, desilusões e esperanças.

Com o intuito de ajudar todos que atuam junto aos jovens nas comunidades e também todos os pais preocupados com a educação e desenvolvimento dos filhos e demais educadores, resolvi passar para o papel, de forma simples, espontânea e nada sistemática, minha visão panorâmica sobre os jovens da atualidade. Tomei como referencial o jovem da classe média, cada vez menos média, ficando para outro momento as considerações sobre a juventude da elite e aquela mais excluída.

Os rapazes e moças da geração atual conservam a generosidade no serviço aos carentes, quando são motivados pelo pároco ou qualquer outra liderança. São disponíveis para ajudarem nas campanhas de solidariedade em prol dos excluídos, flagelados das enchentes ou das secas. Gostam de participar dos grupos ou movimentos e estão abertos para os temas relacionados à religião, à sexualidade, às drogas, pornografia, entre outros.

Crescem, normalmente, em meio a ambientes familiares fragmentados, sem o vigor dos tempos passados. Mas são tolerantes diante de alguns problemas familiares, como o alcoolismo do pai, o stress da mãe, o irmão viciado nas drogas, as dificuldades econômicas, a falta de trabalho, a luta pela vaga na universidade.

Não é fácil ser jovem. O futuro é incerto, há muita insegurança, cobrança e pressão da sociedade, da família e do próprio jovem. Eles recebem diariamente uma enorme quantidade de informações e nem sequer têm tempo ou possibilidade de assimilá-las ou mesmo filtrá-las.

A mídia, através das publicidades, novelas e filmes, impressiona e manipula a juventude, promovendo o consumismo e relativizando os valores humanos e cristãos.

Também na religião o jovem atual nem sempre segue a mesma dos pais. Exemplo disso é que, recentemente, um rapaz explicou-me que sua avó é Católica, sua mãe é Espírita, uma irmã é ligada ao grupo da Renovação Carismática, outra é Pentecostal e que seu pai não pratica nenhuma religião. Ele mesmo se declarava católico não praticante. Percebe-se a “salada” e a multiplicidade de idéias religiosas que circulam em nossa sociedade, afetando diretamente os jovens.

O momento presente da história é o único reconhecido e valorizado pelos jovens. Ele busca viver intensamente as emoções do momento, ignorando ou desconhecendo o passado e as lutas familiares.

Diante da insegurança e da falta de horizontes, muitos jovens evitam considerar ou pensar no futuro. Estão carentes de sonhos e esperanças, concentrando toda atenção ao aqui e agora da caminhada. Alguns slogans que eram fortes para os jovens do passado, como a “libertação” e a “luta pela justiça social”, foram esquecidos. O jovem atual busca garantir apenas sua liberdade pessoal ou individual, deixando de lado as lutas coletivas ou comunitárias.

Outra realidade que se percebe neste vôo panorâmico sobre a juventude, é a luta pela sobrevivência pessoal ou familiar. A falta de emprego, a competição pelas vagas universitárias, entre outras causas não menos complexas, levam os jovens a buscar, sem muitas ambições, algum lugar na sociedade. Não optam pela profissão que gostariam, mas por aquela que se apresenta ao alcance das próprias e reduzidas possibilidades. A necessidade econômica condiciona a opção vocacional.

Paralelamente à luta pela sobrevivência e as dificuldades financeiras das famílias, está a iniciação sexual precoce que quase sempre acontece sem nenhuma orientação dos pais ou educadores. A ausência de ideais, a falta de valores e a carência de modelos em quem realmente possam se espelhar faz do jovem da atualidade um verdadeiro mártir.

É complicado ser jovem saudável numa realidade violenta, com tantos traficantes oferecendo drogas ou ameaçando em cada esquina da vida. Considera-se também a tendência natural dos jovens para tudo que é excitante, como a velocidade, as drogas ou até mesmo o simples curtir músicas em alto volume.

Nota-se ainda uma variação de atitude dos jovens quando estão sozinhos ou em grupos. Geralmente sozinhos são mais tranqüilos e serenos, capazes de ouvir e falar. Em grupos tendem à violência, sentem-se protegidos e poderosos, chegando, às vezes, a formar gangues.

A realidade conflitiva e complexa exige de todos uma dilatação da paciência, uma abertura para o diálogo, a capacidade de escutar e, sobretudo, um amor muito grande da parte dos educadores, dos pais e da Igreja. O jovem precisa sentir-se amado e querido. Estou convencido de que é mais pelo coração do que pela razão, que devemos nos aproximar dos jovens, ajudando-os na caminhada, para assumirem o protagonismo da história.

Comentários

  1. Celina Moreno Lira

    Muito bom o artigo,acho que o senhor conseguiu captar todos os desafios que os jovens de hoje enfrentam e enxergar neles um grande potencial.Eu também acredito na juventude,na sua força, no amor e na disposição em ajudar o próximo.Se não acolhermos os jovens em nossas comunidades com amor e respeito,nossa igreja não terá futuro.

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